s pulps surgiram de fato no final do século XIX, mas sua notabilidade veio mesmo nas primeiras décadas do século XX e foram incontáveis as publicações lançadas, por um amplo número de editoras. A mesma variedade que encontramos em gêneros de filmes hoje ao entrar em uma locadora existia naquela época. Saíam revistas de mistério, terror, fantasia, ficção científica, guerra, romance, máfia, western, e como a linguagem praticamente não tinha concorrência (imagine um mundo sem internet, televisão, videogame, baladas, no qual male, male as pessoas tinham um rádio que era repartido por toda a família) e era tremendamente acessível, tornou-se um sucesso.
Vários personagens conhecidos até hoje surgiram nos pulps, como O Sombra, Ka-Zar, Conan, Zorro, Fu Manchu, Tarzan e Doc Savage, e muitos deram um pulo para sair dessa literatura (na época considerada de segunda mão) de bolso, rumo a um “patamar” mais sério, sendo que alguns foram além e tornaram-se ícones mundiais.
Outro detalhe interessante é que a maior parte das publicações que se prezavam, vinham com páginas ilustradas no meio das histórias (parecido com os livros de Monteiro Lobato) e as capas – a verdadeira vitrine que determinava se a revista seria bem sucedida ou não – eram planejadas com enorme cuidado, muitas vezes com tanto esmero quanto a própria história principal.
Hoje, vários autores que são publicados em edições de luxo pelas maiores editoras de todo o mundo como Jack London, H. G. Wells, F. Scott Fitzgerald, William Burroughs, Isaac Asimov e Sir Arthur Conan Doyle, surgiram primeiramente nos pulps. No Brasil, vários deles como o próprio Asimov – um dos papas da ficção científica – não tiveram nem metade de toda a obra publicada.
Vários dos pulps publicados eram picaretas, reuniam artistas e escritores de terceira categoria, mal remunerados e que estão hoje relegados exatamente ao que merecem: o esquecimento. Por outro lado, muita gente fazia um trabalho sério e comprometido que visava mais do que lucros – como as revistasAmazing Stories e Marvel Stories – e foi isso que permitiu a conjunção de fatores para revelar tanta gente boa. Entre a turma do bem, destaca-se aquela que viria a ser uma das maiores do gênero, se não a maior:Weird Tales (Contos Bizarros, em tradução livre).
Fundada por Jacob Clark Hennerberger e J. M. Lassinger, a revista estreou em março de 1923, baseada em Chicago e editada por Edwin Baird.

Porém, apesar da alta qualidade da revista, as vendas não estavam indo de acordo com o esperado. Os proprietários Clark e Lassinger chegaram a fazer uma proposta para que Lovecraft se mudasse para Chicago e assumisse o cargo de editor, mas para desespero dos donos, o escritor a recusou. Após um ano, enquanto títulos rivais explodiam nas vendas,Weird Tales ia para o buraco, abrindo um déficit enorme, que resultou na demissão de Baird após 13 edições.
Sem opções, o trabalho de editor foi passado, então, para o assistente de Baird, Farnsworth Wright. Uma aposta tão arriscada quanto desesperada, mas que revelou-se, com o tempo, o maior acerto de toda a história da publicação.
Sob o comando de Wright, a Weird Tales começou o que ficou sendo conhecida como sua Era de Ouro. O novo editor tinha duas políticas, encontrar novos talentos e mantê-los felizes ao serem terrivelmente bem pagos, de forma que eles não levassem seus contos para revistas concorrentes. A estratégia funcionou.
A maior descoberta de Wright viria a ser, sem dúvida, o escritor Robert E. Howard, que logo se tornaria seu protegido. A disposição de Howard para escrever só rivalizava com sua inesgotável imaginação e sua prosa sensacional e não demorou muito para que o escritor começasse a entregar textos como ninguém jamais tinha visto antes. Entre eles, um certo bárbaro oriundo das colinas da Ciméria. Mas não foi apenas Conan que Howard criou – sua pena também deu origem a outros heróis famosos como Salomão Kane, Red Sonja, Bran Mak Morn, Rei Kull e El Borak. Além disso, Howard produziu centenas de outras histórias de gêneros diferentes e acabou se tornando nada mais, nada menos, que o criador do gênero Espada e Feitiçaria, influenciando até mesmo gente graúda como Tolkien.

Assim, se Edwin Baird publicava qualquer coisa que lhe dessem em sua época, Wright por sua vez era criterioso e envolvia-se em todas as etapas da produção da história, tomando a liberdade de especificar inclusive o que esperava das ilustrações e capas (e rejeitá-las também quando não eram de seu agrado). Mas longe de ser um carrasco, Wright sempre deixava claro aos escritores o motivo da recusa e não raro pedia que eles fizessem algumas alterações nas histórias para que essas se enquadrassem melhor na linha editorial. Vale dizer que ele jamais mexia em um texto por conta própria – era extremamente íntegro e respeitoso nesse sentido.

Isso pode parecer muito para os padrões de hoje, contudo na época, os campeões de vendas como O Sombra ultrapassavam um milhão de exemplares – e mesmo após a quebra da bolsa em 1929 e durante os anos da Grande Depressão, essas revistas mantiveram tiragens acima dos 300.000. É uma diferença significativa, que dá a dimensão do que está sendo mostrado.

Outras grandes aquisições de Wright foram Edmond Hamilton que publicou 79 contos na Weird Tales, E. Hoffman Price (que escreveu a polêmica história The Stranger from Kurdistan, na qual Jesus Cristo tem uma discussão com Lúcifer) e C. L. Moore, uma das primeiras escritoras a trabalhar com pulps e criadora de Jirel de Joiry, a primeira heroína do gênero Espada e Feitiçaria, cuja história Black God’s Kiss foi comprada por Wright em1934.

Outro que deu grande contribuição às capas foi James Allen St. John, que posteriormente se destacaria muito como ilustrador profissional, fazendo capas para livros do Tarzan, entre outros heróis.






Sob a batuta de Wright, muitos nomes bons, porém menores, também fizeram parte do elenco da revista: Paul Ernst, John Flanders, Otis Adelbert Kline, Robert Barbour Johnson, Harold Ward, entre outros. Ele também tratou de trazer clássicos de escritores consagrados, como Edgar Allan Poe e Bram Stocker.

Os golpes abalaram a publicação, as finanças se complicaram e a Weird Tales foi vendida e transferida para Manhattan, em 1938. Wright permaneceu mais dois anos tentando realizar seu trabalho de editor, contudo agora precisava lutar constantemente contra as opiniões contrárias da nova diretoria, que queria baixar a remuneração dos autores, mudar o formato do título e começar a usar um papel ainda mais barato. Dois anos depois, Wright pediu demissão do cargo, sepultando definitivamente os anos dourados da Tales.
Ele foi substituído por Dorothy McIlwraith, que editou seu primeiro número em abril de 1940. Sob o comando de Dorothy, a Weird Tales entrou em uma fase completamente diferente, sendo mais eclética e burocrática. A nova editora discordava da postura de Wright em vários aspectos e para ela, a era de histórias bizarras havia ficado para trás. Assim, investiu em um novo grupo de autores que apresentavam um conteúdo bem mais light que seus antecessores.

A era dos pulps já havia ficado para trás e a competição com revistas em quadrinhos, rádio, televisão e cinema (sem contar a escassez de papel que assolou o mundo durante todo o pós-Segunda Guerra Mundial) foi demais para que a revista conseguisse se manter.
De lá para cá, várias tentativas de reativar o título foram feitas, todas com resultados medíocres, inclusive uma antologia editada por Lin Carter na década de 1980. Na última década, a revista voltou a ser publicada regularmente e a surpresa veio em 2009, quando pela primeira vez, a Weird Tales foi indicada para o respeitado Hugo Awards, levando o prêmio para casa.
Este ano a revista foi novamente nomeada para o Hugo, que será realizado em agosto, em Reno, Nevada (EUA). Atualmente, a Weird Tales está no número 356.
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